"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"

4.6.15


Cabelos de Chuva 

 Antes de sair de casa, ela guardava as lágrimas no bolso mais fundo. Depois andava o dia todo a desembrulhar sorrisos abertos e quando lhe fugiam as forças, metia discretamente a mão no bolso e empurrava as lágrimas mais para dentro, sentia-as atravessarem-lhe o tecido da roupa, umedecerem-lhe a pele morna do peito. Com os dedos molhados, ajeitava então os cabelos em desalinho, naquele gesto tão dela que todos lhe conhecíamos, e sorria de novo. Chamavamos-lhe cabelos de chuva. 
Nunca a vimos chorar. Nunca a veremos chorar porque ela partiu hoje, a mulher que guardava as lágrimas no bolso mais fundo. Quando me fui despedir dela, fiquei muito tempo a olhar-lhe os dedos entrelaçados, cruzados sobre o peito finalmente seco de lágrimas. No rosto cadáver, um teimoso ponto de luz iluminava-a toda: o mais belo sorriso aberto que jamais lhe conheci. 

  Ana Paula Mateus
(photo Rita Hayworth)

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2 comentários:

  1. Oi.Belo poema, parabéns.Parabéns pelo belíssimo blog, gosto muito de fotos preto e branco.:O).Um ótimo fim de semana.Abraço.

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    1. Olá, Vinicius! Grata pela visita e por seu carinho.
      Bjs e bom fds.

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