"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"

31.7.14


Escuto a vida. É inevitável a solidão. Vou caminhando a senti-la, a querer sentir-me nessa solidão; é essa, agora, a minha viagem - saber estar só, repousar, nessa planura longa, silenciosa e branca. 

  Maria João Saraiva

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29.7.14


Por favor, 
respeita o meu silêncio. 
O silêncio é a minha melhor arma.
 
 Escutaste as minhas palavras 
quando fiquei silencioso? 

 Sentiste a beleza do que disse 
quando não disse nada? 

  Nizar Qabanni
(trad. Jorge de Souza Braga)

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27.7.14


pequeno poema dos dons 

aos que não conseguem 
meditar:
as saudades e os jasmins

aos que não conseguem
imantar:
os silêncios e os gerânios

aos que não conseguem
flertar:
os mistérios e as violetas

aos que não conseguem
perseverar:
as palavras e as angélicas

aos que não conseguem
acorrentar:
o infinito e as orquídeas

  Assis Freitas

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26.7.14


Procura-se 

Artesão da pele

que mergulhe o meu corpo no mar
borde com conchas meu dorso
pincele de areia os meus cabelos

sopre a poesia e me dê vida

Flor de Sal

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20.7.14


 Eu vou espantar os automóveis da minha janela
e vou instalar uma tomada direto no Sol.
Vou ligar as torneiras no bojo das nuvens,
vou me carregar de arrepios
e ligar o botão da árvore fazedora de sombra.
Vou construir paredes de vento,
cortinas de cachoeiras,
e cobrir tudo com um telhado de estrelas azuis,
e depois, eu vou reger uma grande orquestra 
de passarinhos
e dar corda nos beija-flores,
para que eles me despertem quando tudo estiver 
terminado.

 Hélio Ribeiro

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9.7.14


um colar de lembranças para contar

guardava no compartimento esquerdo 
 uma mala com histórias, lembranças, sorrisos, olhares. 
 era com ela que fazia uma espécie de pescaria do tempo:  cada vez que lançava o anzol recuperava uma nova pérola. 

  renata carneiro

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8.7.14


Chá para as borboletas 

Janela - espelho meu.
Fragrância de almíscar selvagem
me violenta.

Menino com aura violeta.
Jovem com juba desgrenhada.
Velocidade lenta.

Garganta do poço este túnel
cinza, onde trafego dias.

Penso na infância, sombra
dos eucaliptos, recanto secreto

onde eu servia chá às borboletas.

  Bárbara Lia

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4.7.14


quando a casa se cala 
de repente aprendo a ter medo 
e fui eu que pedi este silêncio 

 ainda tenho o sabor a quente das palavras 

 abro e fecho armários e gavetas 
queria um lugar fechado para guardar memórias 

 depois 

 fico ali sentada à espera que algo aconteça 

  maria sousa

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3.7.14


Bolinhos de manteiga de amendoim

Se tivessem se conhecido no passado, se tivessem sido adultos na década de 40, talvez pudessem ter sido uma família como as das ilustrações de Norman Rockwell. Haveria um pequeno cão preto, um filho mais velho, uma filha do meio e um bebé bochechudo sentado nos joelhos do avô. Festejariam o aniversário do filho, a avó trazia para a mesa uma tarte de morango, o cão corria excitadamente ao encontro dela, seriam todos rechonchudos e corados. Uma toalha de mesa branca a roçar o chão, um presente por abrir, uma terrina de legumes sobre a mesa. Bolinhos de manteiga de amendoim. 

  Ann Beattie
(trad. Maria Sousa) 

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2.7.14


Chamada geral 

avisam-se todas as polícias
fugiu um homem

atenção
supõe-se que é perigoso

sinais particulares:
baixa-se com frequência
para fazer festas a um gato
apanha folhas caídas
antes que o varredor as leve
gosta de tremoços

uma informação
da máxima importância
relatórios afirmam
que frequentemente
sorri com extrema virulência

todo cuidado é pouco

  Mário Henrique Leiria

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