"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"

30.11.10


se sentes que não existes

se sentes que não existes,
que se extingue a tua voz quando é escutada,
que o teu corpo se apaga se ninguém o toca

se tu não existes,
a tua solidão muito menos

Brenda Ascoz

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29.11.10


Livro de gravuras

A manhã acordou fresca
como a boca de um cântaro poroso.

Como as mulheres de perfil harmonioso
dão à paisagem uma nota pitoresca
com o seu cântaro poroso,
com o seu cântico choroso,
com a sua alma zingaresca!

Onestaldo de Pennafort

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28.11.10


Voz

Não do corpo mais do vulto
vem a voz que tudo evoca

Numa hora e dez minutos
mil e uma noites ocorrem

Não da boca mais do fundo
a voz que tudo convoca

Numa hora e dez minutos
mil e uma noites ocorrem

David Mourão Ferreira

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

27.11.10


De noites e de mar

Em longes
em silêncios
teço tua imagem
de noites e de mar

nas fogueiras
nas torrentes
formo tua argila
de fumaças
e vento

todos os veleiros naufragaram
e não há mais que os teus passos
que batem
batem
batem
nas minhas têmporas

Rina Chani
(trad. de Cecília Meireles)

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

26.11.10


Separação

aquele homem
era a minha rotina

eu cerzia suas roupas
limpava seus sapatos

ele fazia do meu corpo
um caminho só de ida

Mariana Botelho

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25.11.10


Cravação fechada

A regra só pode ser esta:
os lapidários lapidarão e os ourives engastarão.

E elas, as de cabelo asa de corvo e olhos pretos, usem, de primazia, na cercadura dos brincos a prata branca.

Com vistas para o realce.

Ponham, por cima, camisa aberta e cor de canela, que entraves raianos não molham beijos,

sabendo que reais são os méis e adulações no estreito das embocaduras, maiormente da do fremente limo voraz.

E, por cima de tudo, a destapar as pernas quase todas, que a seda preta, ávida de regard, mostre a sua solidão furtiva entre a saia e a carne nua.

Marcando territórios, os lobos florescem.

Doutor Lívio

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24.11.10


Cavalo à solta

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura....

Ary dos Santos

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23.11.10


Tu encostavas o teu rosto
À inquietude do meu peito
Quando eu
Não tinha mais nada para dizer

Tu encostavas o teu rosto
À inquietude do meu peito
E escutavas
O meu sangue que corria
A minha paixão lacrimejante que morria

Tu ouvias-me
Mas não me vias

Forough Farrokhzad

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

22.11.10


o meu amado apagou o candeeiro
e apagou a sua amargura no meu corpo
...
estendeu sua asa destroçada à minha volta
e abraçou-me...
e, a meu lado, adormeceu...

Salah 'Abd al-Sabur
(trad. de Adalberto Alves)

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21.11.10


Forever

A saudade (tua)
me pegou pelo braço
e (nua)
fez no meu regaço
a batida (crua)
do meu coração
(a lua)
pulsando no espaço.

Hoje sou (lua)
crescente
-estardalhaço-
e em descompasso
espero (melíflua)
que assines teu nome
dentro do meu abraço
onde a saudade
pactua
desse amor
em brasa
(e perpetua)
em aço.
(vem e me tatua...)

Elise

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20.11.10



Efeitos

As doces meninas de outrora
amanheceram
vestiram os vestidos novos
pintaram as unhas de vermelho
por um instante resplandeceram
depois baixaram as cabecinhas louras
e envelheceram como as flores

Horácio Dídimo

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19.11.10



Essa mulher que caminha no orvalho da madrugada,
de pés nus, que dança na margem do rio,
ouvindo o vento da noite,
essa mulher
que canta o silêncio até onde o grito,
traz na fronte a cicatriz,
que se desenha como a luz na água, a sua loucura,
ela, alheia a tudo,
dança até onde a música eleva os seus pés,
ardem-lhe os lábios, morde a dor, a vida
e nada recusa.
Dança até onde a tempestade a leva.

Maria João Cantinho

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18.11.10

Cúmplice

Queda-te em teu silêncio.
Entre meus dedos,
o tempo é mel perdido.
Espero o tempo escrito no degredo.

Tua face de marfim e medo
tenho, a escutar a ti mesmo
ouvido no meu peito.

Guarda-me sob os lençóis das tuas pálpebras,
quanto te recolho em fragmentos
quanto assim de ti me acrescento,
a render-me ao silêncio preciso
aqui,
onde só tu és possível.

Gláucia Lemos

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17.11.10


Os meus sentimentos deviam guardá-los, ainda lhe podiam fazer falta, e a mim não me serviam de nada, devia tê-lo aconselhado a guardá-los, nunca sabemos quando precisamos dos sentimentos, da latinha de fermento que está há anos na despensa, da camisola de lã que não é vestida há mais de cinco invernos, nunca se sabe quando precisamos de coisas mesmo se nunca as utilizamos,

não fosse essa incerteza e punha um anúncio no jornal, vendem-se sentimentos, estado impecável, como novos, oportunidade única, motivo mudança de vida, bom preço.

Dulce Maria Cardoso

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16.11.10

quando não existe o mundo
semeio jardins no meu quarto

em opostas águas
desconhecidas palavras

florescem no coração de ninguém

Maria Costa

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15.11.10


avessos e espelhos

dentro de mim mora outra - meu avesso

quando olho no espelho
é ele (meu avesso) que vejo

nos meus sonhos
é ela (a outra) que atua como num filme

na memória mais antiga é ela que sorri

é meu reflexo
que caminha pelas ruas – olhos em chamas

tanto sol

enquanto (quem?) cativa se debate
no buraco do espelho onde (obtusa mente)

vive no escuro

Nydia Bonetti

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14.11.10


Ameaça

Um dia vais arrepender-te

Vou fazer-me explodir em palavras diante de ti
e vamos morrer os dois cravados de sentidos.

Pedro Canais

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13.11.10


Não quero mais

Estourei minh'alma nos corais
Queria o mar, não quero mais...

Beijos de sal em alto mar
Queria velas pra navegar

Paixões pagãs no areal
Queria o bem, queria o mal

Beber o mar em aguardente
Queria mais, tão de repente

Estourei minha vida lá no cais
Queria viver, não quero mais...

Cefas Carvalho

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12.11.10

Infelizes

o que foi feito de amália
a bela de olhos lânguidos
e de tristeza entranhada
cujos passos a levaram
para a sombra de antônio
um homem de gestos rentes
e sorriso ácido?

o que foi feito de amélia
aquela mulher desverdade
que passava suas tardes
sem dizer uma palavra
e que durante o trabalho
deixava em tudo o rastro
da sua poeira amarga?

o que foi feito de emília
da sua pálida pele
quando foi abandonada
tão quieta tão sem ânimo
até que veio um pássaro
e levou-a para o céu
para a suíte dos santos?

o que foi feito de ordália
adélia odília odete
ana

o que foi feito de ângela?

Líria Porto

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11.11.10

Antípoda

Poupem-me a transparência das coisas,
Roupa lavada, sol, danças de roda.
Prefiro reflexos, recordações,
Disfarces mortiços de camaleão.

Não estou. Nenhuma veia em mim murmura.
Vivo nas sombras, nome não conheço.
Deixem-se ressequir na invernia,
Longe das fortes bátegas do verão.

Os temporais de luz, não os suporto.
Não me olhem. Evitem-me essa dor.
Ó câmara. Imagem do bem-estar.
Quero-me antípoda desta exposição.

Gerrit Komrij
(trad. de Fernando Venâncio)

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10.11.10


de.gelo

fechei os olhos para ver
a cor dos sons que pairam
sobre a pele fria
do corpo.
há neles um incêndio inquieto
chama hesitante
onde as mãos degelam
a capa branca
da solidão.

Alice Daniel

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9.11.10

Às cinco

que se transformasse
em tarde morna
o que às cinco
não me vem de partilha

que fechasse o portão, a tramela
desligasse a luz, o gás, o fio
que virasse a página
o que de mim se vai

que empilhasse a roupa suja
renovasse o sabonete
e lavasse friamente as mãos

que deixasse com o café esfriar
o conflito soluçante do fim
e me recitasse o adeus
assim, mornamente

- deveria, mas não o fez

Beth Almeida

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8.11.10


foi só por ti que me fiz da cor do musgo
em ti me rendi -
nada ficou à sombra dos lábios.
foste o flanco o bordo o sentido das nuvens
a ondulação do grito.
em ti fiz a tempestade - devolve-me o abrigo.

Isabel Mendes Ferreira

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7.11.10

da minha janela vê-se uma espécie muito rara de angústia
tem o corpo que não ousei que me fosse
usa o amor como se fosse a origem da sede
e sossega-se contra o peito da alvorada

da minha janela vê-se uma espécie única de medo
chama-se eu mas diz-se tu
e por vezes nós quando prende a vida
a algo tão falível como a vida

da minha janela não se vê mais nada
ouve-se o silêncio contra mim
e chove morte contra os vidros
por dentro como soa o fim

Pedro Sena-Lino

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6.11.10

vem buscar-me...
atravessa o livro que deixei aberto no chão...
que eu tenho frio e não sei se encontro asas para regressar
...
preciso da tua retina aguada...
da sinceridade com que falas às cinzas azuis dos sonhos
...
sentiste o meu grito?
venceu o olvido vazio que nos separa?...

Daniel Gonçalves

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5.11.10

Não sei

à procura das chaves do carro, a revolver a mala. na ponta da caneta e no azul do tinteiro. a arrumar toalhas e lençóis no armário. a pensar nas pessoas que fazem palavras cruzadas, jogam sudoku. ontem. na chama da vela sobre a peanha. a passear na linha de um verso e a descer por um poema, a descer no elevador, a descer o Chiado. na chávena do leite quente, na porta do microondas. nos headphones da Fnac. hoje. nas camisas e gravatas nas prateleiras das lojas. na água que corre das torneiras de casa. no tempero de sal.

não sei de um eu onde não estejas.

Eugénia de Vasconcellos

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4.11.10

Naveguei-te

Entornei-me de nudez e dei-te o flanco as costas a pele roubei-te o livro onde rasgavas memórias trouxe-te suspenso e quando a noite amanheceu nos teus cabelos naveguei-te com a força do gesto fundo.

Isabel Mendes Ferreira

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

3.11.10

Não digas que eu não estava à janela,
que não foi para ti o que não viste.
Há tanta coisa que não sabes, não digas.
Um dia ver-me-ás à janela de ontem
com a roupa que hei-de vestir amanhã.
Até lá pensa que me sonhaste. Nem eu mesma sei
o que fiz nesse dia. Mas a janela guarda os meus dedos
como tu me guardas. O tempo é uma invenção recente.
Era uma vez essa mulher que viste. Retira o vidro,
a moldura, e não te esqueças de abrir o horizonte.

Rosa Alice Branco

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

2.11.10



Percebo novos sinais do tempo
diante do espelho mudo.
Olho incerta a nova ruga,
torcendo que ela não esteja
mas está.

Na tentativa de manter-me sã
encho a cabeça de lembranças.
Histórias muitas que eu não sei contar
e se acumulam
cristalinas
entre um fio e outro de cabelo branco.

Espelhos e paredes não me fazem falta
mas eu moro só.

Lilian Dalledone

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

1.11.10

desilusão

a desilusão entrou
na porta trancada

a duplicidade irrompeu,
entrou pela noite
inóspita de palavras brancas

escapou a saudade
dos pedaços de uma aventura
caídos de um corpo

o mar, chegou até mim
num silêncio impenetrável
e reconheci-te na sombra,
ao anoitecer

murmúrios envolventes
de promessas e desejos
um amo-te!
dito a cada instante
em horas somadas, perdidas
de noites seguidas

a desilusão entrou
e abriu a porta...

lena maltez

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨