"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"
30.11.17
Xeque mate
Caem-lhe as peças de xadrez do tabuleiro derrubadas por movimentos mal calculados. Ouvem-se no andar de baixo a embaterem no soalho e calarem-se num som trémulo, quase um lamento. Ele apanha-as e volta a colocá-las nos lugares de que se lembra. Sabe que erra os lugares, principalmente quando cai mais do que uma peça. Sabe também que não importa. Como não importa quem ganha ou quem perde, ele ou o outro que com a sua mão joga do outro lado. Importante é não parar de jogar.
Cansar a noite, cumprir a vida, deitar-se para amanhã recomeçar.
Sem minha mãe, acho que jamais teria me saído bem na pantomima. Ela possuía a mímica mais notável que já vi. Às vezes, ficava durante horas à janela olhando para a rua e reproduzindo com as mãos, os olhos e a expressão de sua fisionomia tudo o que se passava lá em baixo. E foi observando-a assim que eu aprendi não somente a traduzir as emoções com as minhas mãos e meu rosto, mas sobretudo a estudar o homem…
A minha memória não é uma fonte de sofrimento. Certas partes são como uma loja de penhores, outras como um aquário, outras como uma despensa. Julgo que há um sítio onde a memória se distorce como as imagens nos espelhos de feira e é essa a área que mais me interessa.
Me dê as flores em vida; o carinho, a mão amiga, para aliviar meus ais. Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais.
é um tempo de cinza, este que vivo sem ti. é um tempo nulo, este que atravessa os dias de espera.
tempo de cardos no coração. tempo que se amachuca numa folha de papel escrita.
nada, a não ser a respiração que acredito ser minha.
Esta é a melhor altura do ano
para cortar o cabelo – profere Sandy,
remexendo com a ponta dos dedos
alguns fiozinhos na testa.
A porra da lua atrai as marés,
cria tsunamis, invade o Japão,
provoca uma crise nuclear,
porque é que não haveria de fazer
crescer o cabelo?