"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"
Amor total...
Ama-me antes do fim das rosas
e da apanha das cerejas.
Ama-me nos braços que nos apressam,
antes de a madrugada se entregar ao dia,
antes que as sombras
tomem conta das paredes,
e o desejo esmoreça.
Ama-me antes que as andorinhas
rumem a sul,
antes da ceifa do trigo,
e do entardecer da aurora.
Ama-me como se fosse um poeta,
um amante em pecado,
um intervalo entre dois tempos.
Ama-me à meia-luz,
na insensatez,
na loucura hipnótica das estrofes,
na fusão íntima dos corpos,
no breu da noite.
Ama-me… tão só.
Francisco Valverde Arsénio
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Flor de fim
Como saber?
Se a tristeza é breve
se a alegria é forte
se a paz é leve.
Se a fé rebrota
no inverno gris.
Se teus dedos
na madrugada
fazem meu fim.
Como saber?
Entender tua cor.
Como saber?
Se já não sou.
Como não ser?
Se nós somos flor...
Leila Krüger
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Fui eu
Fui eu essa menina que me espia
- melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto
-
no retrato que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa trocada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu: e na figura só ficou
o olhar desenganado, na fumaça
em que a criança inteira se mudou.
Fernando Py
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A revelação dos espelhos
Tudo em mim é desânimo, cansaço,
um imenso desejo de morrer.
Em minhas faces vejo a cada passo
o lanho de uma ruga aparecer.
A cada riso novo, a cada traço
que a consciência me dá do envelhecer,
mais a mais se reduz o livre espaço
em que um laivo de luz se possa ver.
No atropelo das horas consumidas
não percebi que em rondas desvairadas
era eu levado para a destruição.
Ao ver-me hoje nas chapas denegridas
dos espelhos, opacas, desgastadas,
sinto-me frio e em lenta corrosão.
Alfredo Cumplido de Sant'Anna
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O tempo passado
Houve um tempo
em que a mão erguia uma lanterna
e a noite se afastava um pouco, devagar.
Não se anulava.
A noite e o dia
abriam sulcos para o silêncio como um rio
e ao nosso lado caminhava sempre um espaço aberto.
Eu não recordo,
mas dizem-me que partíamos e tornávamos à casa
como o sangue parte e torna ao coração.
Mar não havia,
mas pisávamos violetas.
A cama em que dormíamos era a do parto e a da morte,
o pão era solene
e a aurora familiar.
Ah, dêem-nos, dêem-nos de novo
aqueles corpos ignorantes e densos,
e ouvidos para o silêncio
e boca para acreditar.
Maria da Saüdade Cortezão
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