O sótão
Entrar com os olhos muito abertos
porque a luz se esconde
atrás do pó, das coisas
que esquecemos, alguma há-de
ser a nossa infância, trará sapatinhos
de verniz, um laço
dos casamentos das tias
uma tabuada com as contas
furadas de um dos filhos
cadernos com línguas estranhas
um Ferrari
repentino sem uma roda
uma subida até ao Himalaia
de uma teia de aranha remendada
Por que será que o sótão
está sempre no derradeiro andar da vida?
João Tomaz Parreira
(foto Martita Hunt)
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