
Perante a morte estamos sempre sozinhos.
Umas vezes de pé, desassombrados.
Outras deitados em concha, no soalho.
Umas vezes dela falamos, outras não.
Nessas fingimos ter a fala neutra e esquiva,
Como se a tristeza não enchesse o horizonte.
Sozinhos perante ela certo é que estamos.
Dobramos o riso na curva dos caminhos,
Juntamos mãos a outros gestos já traçados,
Calcamos passos sobre a terra
E beijamos, nos nossos filhos,
A memória que, nossa, não teremos.
Traço as letras. Ao traçar as letras,
Sei de que falo.
Entretanto, nunca o saberei.
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Talvez tenha sido esse o dia (foi seguramente) em que falaste de asas, como se a noite as fizesse crescerpor delas falarmos: e houvesse, ao nosso lado, o intermitente rufar das suas penas.
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Só ontem disseste caminhamos sozinhos,
e por isso só ontem te entendi:
o silêncio do mundo está cheio de vozes.
Helena Carvalhão Buescu
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Sim, sempre sozinhos perante a morte...
ResponderExcluirUm ótimo fim de semana pra ti querida.
Beijo!