
Há um toque de fogo
Há um toque de fogo na tua boca. Um veludo que te roça com minúcia pelo rosto, que te aquece e eriça a pele num desassossego dissoluto. Estás ao alcance da noite, onde fluem sôfregos os deleites, onde refulge o orvalho no teu rasto de luz. Lá fora bruxuleiam sombras e escutam-se sons nocturnos. Tudo o resto adormece. E tu estás só. À janela. Estás só e o olhar, que era teu, há muito partiu na nostalgia de um passado sem futuro. Se ao menos palavras houvessem como líricas trovas de amor. Se ao menos bastasse o requebro da voz, qual preciosa renda envolvendo e ornando o teu mundo...
Jorge Dourado
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