Ouço-os em redor do meu caixão, falando baixinho.
Lamentam-se dizendo que é injusto... tão injusto.
Ficam calados durante uns instantes, talvez olhando
para o chão, talvez perguntando-se que horas serão;
e depois repetem: tão injusto. Alguém diz pesaroso:
teve uma vida simples e monótona, tão altruísta.
Ninguém responde: e o silêncio incomodando.
Novo lamento: uma vida de sacrifício, para que
fossem felizes. Depois, uma confissão inesperada,
quase inaudível: tanto que a amávamos. E eu no meu
caixão, quietinha. Um pouco surpreendida: amavam-me?
E só agora é que mo dizem?
Paulo Kellerman
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