"A todos os visitantes de passagem por esse meu mundo em preto e branco lhes desejo um bom entretenimento, seja através de textos com alto teor poético, através das fotos de musas que emprestam suas belezas para compor esse espaço ou das notas da canção fascinante de Edith Piaf... Que nem vejam passar o tempo e que voltem nem que seja por um momento!"

9.12.09

Quero um cavalo de várias cores

Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?

Reinaldo Ferreira

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2 comentários:

  1. O olhar... aquele olhar.
    Sobressaindo da penumbra, a pele acetinada adivinhava um deslizar de prazer, como se a ponta dos dedos soubessem – só eles – um caminho secreto por entre as estrelas.
    Reclinou-se um pouco, à procura dela.

    Conheceram-se num jardim, entre dois lagos de nenufares. Ela caminhava sózinha, um longo vestido a roçar as ervas do chão, uma sombrinha colorida e um chapéu ridiculo, que nela se transformava numa obre de arte. Ele tagaraleava com os amigos, na maldizência corriqueira de todas as manhãs de domingo.
    Cruzaram-se na estreita ponte de pedra, entre os lagos.
    Por um segundo – como pode a eternidade resumir-se a um segundo ? – os seus olhares convergiram um no outro... para não mais se soltarem.

    A mão fria tocou-lhe as costas nuas. Estremeceu.
    Os dedos dela reclamaram os dele. Ergueu os braços e envolveu-o num abraço interminável, enquanto deixava que os os olhos se afogassem naquele sorriso. Como podia um sorriso iluminar a escuridão, como se de mil chamas se tratasse?

    Ela baixou o olhar, quando ele a convidou.
    Ofereceu-lhe uma flor amarela e disse-lhe que o seu sorriso era mais cristalino que o nascer das águas. Que estava enfeitiçado, que preferia transformar-se na areia aos pés dela que permanecer longe do seu olhar.
    E ela sorria infantilmente... de um jeito que envergonhava todas as deusas do Olimpo.

    Os lábios tocaram-se, ansiosos.
    O mundo desabou numa espiral de aguarelas coloridas, perfumando o êxtase dos sentidos. O universo – ali e agora – resumia-se aquele beijo, os corpos colados e imóveis.
    O tempo emudeceu e vagarosamente, deixou que os amantes caminhassem nus sob um manto de estrelas, alheios à escuridão que tombava sobre eles.
    Pouco a pouco, a pele macia adquiriu reflexos de marmore, os lábios colaram-se para não mais se soltar, o frio manso da pedra fechou-lhes os olhos numa expressão de prazer sem palavras, os cabelos soltos entrelaçados num labirinto de sombras.


    ( Silêncio )

    - João... onde leste tu essa história? Aqui no guia do museu só diz “ O beijo, de Rodin”...
    - Anh... o beijo... sim... desculpa, o que dizias?
    - A estátua... a história... onde foste tu..
    - Eu? Não... nada. Simplesmente... sinto que foi assim que ela surgiu.... nem podia ter sido de outro modo, não podia...

    Ela olhou-o com ternura.

    - João...
    - Sim, Maria?
    - Se eu te beijar... aqui e agora... não nos vamos transformar em pedra... pois não?

    Ele apertou-a, como há muito tempo não se lembrava de o fazer.
    - Quero lá saber...

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  2. Olá Helena, gostei bastante de suas páginas, e pela primeira vez vejo uma citação na parte de comentários. Gostei do blog pelo noir do mesmo e da escrita de tom sublime.

    Abraços Marco

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